Segunda parte Lembranças do Filipinho.
O Filipinho que eu passei minha infância e juventude, tinha trezentas e cinquenta
casas com as paredes de concreto, totalmente iguais, cada uma com três quartos,
uma sala, um banheiro, uma cozinha, uma lavanderia, na frente de cada casa um
pequeno terraço, no seu lado havia uma treliça em forma de ele, 0 Filipinho situava-se
entre os bairros, Sacavém à esquerda, e a Jordôa à direita, sua frente era para
a Avenida João Pessoa, e fundos para o manguezal do Igarapé do Rio das Bicas,
serviam como transportes mais frequentes para os seus moradores do bairro, a
princípio o Bonde, que fazia o retorno no Sacavém e os ônibus das linhas do
Anil e Tirirical, que passavam somente na Avenida João Pessoa, que na época,
era a única avenida que ligava os bairros, onde os ônibus, carros e caminhões circulavam,
o Filipinho possuía um grupo escolar, frente para a Avenida João Pessoa, Prédio
para Administração, e um Ambulatório ambos voltados para a Rua treze, vários
pontos comerciais com a frente para a Rua dois, uma Igreja Católica, com uma
Cruz desproporcional, nos degraus da porta de entrada da igreja, sentávamos
neles distribuídos por idade para conversar, os mais velhos sentavam-se
encostados na porta de madeira e os outros degraus ocupados pelos demais, e os
bancos de cimento da praça serviam de descanso, para o pessoal que voltava das “festas”;
nos fundos da igreja, algo que seria a casa paroquial, mas na realidade, servia
como sala de aula cujo professor era Sr. Sampaio, que fazia uma espécie de
reforço escolar para algumas crianças, as casas do bairro, eram separadas por
uma cerca de arame liso, sustentado por estacas de concreto, cada casa tinha
três calçadas, uma junto a casa, uma outra intermediária, separando o primeiro
canteiro, e pôr fim a calçada mais larga, entre o segundo canteiro, e terminava
na sarjeta, as casas das esquinas, foram beneficiadas, com um terreno bem
maior, e naturalmente com uma maior quantidade de canteiros, suas ruas, parte
calçadas com paralelepípedos, outras apenas cobertas de piçarra.
Com o passar
do tempo surgiram às reclamações sobre a distância percorrida por pessoas que
desembarcavam na avenida, e caminhavam no sol ou na chuva, para chegar as suas
casas, foi então que surgiu uma ideia revolucionária, criou-se então uma
cooperativa de ônibus pelos moradores do Filipinho, a cooperativa, contava com
seus belos ônibus Mercedes novos e confortáveis, os famosos “cara chata” com
cobradores sentados que vendiam as fichas coloridas, cada cor significava o
percurso pago, e eram depositadas na saída em porta-fichas transparentes, os
nossos ônibus, cujos modelos eram completamente diferentes dos demais que
estávamos acostumados a viajar, e assim, os ônibus exclusivos dos moradores do
Filipinho estacionavam ao lado do abrigo novo, onde a molecada faminta ao
retornar da escola, se deliciava com um caldo de cana com pão massa fina, vendido
no abrigo, só um nome de um dos motoristas me vem à lembrança, uma pessoa
chamada Eudes, o responsável pela nossa cooperativa, tinha o apelido de
“Charuto; no Filipinho, os ônibus faziam o seguinte trajeto: Desciam pela rua
dois até o fim, dobravam a esquerda na Rua Oito, seguiam até a Rua Um e
novamente dobravam a esquerda, subiam pela Rua Um, até o ponto final na Avenida
João Pessoa. Naturalmente não deu certo a cooperativa, pois tratava-se de algo
impossível de administrar, as razões para o fracasso desconheço, mas o
importante é que as empresas de ônibus que passaram a explorar a linha do
Filipinho, continuaram a percorrer o mesmo itinerário dos ônibus da
cooperativa, o que facilitou a vida de todos os usuários.
Abastecimento de água praticamente normal.
A Energia sofrível, normalmente faltava energia, no Natal e Ano novo.
Uma panificadora da Dona Miroca, e ainda havia a venda de pão toda tarde
por Sr. Pedro, P. P. P.
Com certeza Mario Júlio e Outros se lembram do significado dos pês.
A compra de carne, peixe e verduras, era feita na feira do João Paulo, mas,
havia um pequeno açougue detrás da Igreja que também vendia carne, porém, só quando
estava pendurada na frente do açougue, uma bandeira vermelha indicando que
nesse dia havia o produto, não sei porque era chamado de carne verde.
Durante o dia vendedores de camarão, peixe pedra e caranguejos em
cambadas, os garrafeiros, que faziam a alegria da criançada, havia ainda os
vendedores de sorvete, picolé, quebra queixo, pamonha, roletes de cana, cocadas
de coco com leite, vendidas por Niquelado e as cocadas de coco com maracujá,
vendida por Esmeraldo [chicletes], e o irresistível pirulito enfiado num palito
tirado da folha da palmeira de babaçu, ao ser anunciado, era complementado pela
molecada com o seguinte refrão: Pirulito enfiado no palito e [amassado no
penico]. O pirulito, era pago normalmente com o resultado da venda das garrafas
e litros e vidros, ou com as senhas, troco dos bondes que faziam parte da SAELTPA,
sigla de, Sociedade de Água, Esgoto, Luz, Tração, Prensa de algodão, uma
empresa comandada por Ingleses .
Mercearias. Sr. Eliezer, Hércules, Sr. Arruda e mais tarde Sr. Álvaro na
esquina.
Bares do Sr. Arruda, João Pato.
Times de futebol:
Radar, do Sr. Lima
Renner. Do Sr. Gasparinho
Real. Do Sr. Luís Carlos
Eram os de maior expressão.
Pessoal da bola.
Arnaldo [mambira], Tapioca, Caboclinho, Celso Cantanhede, Pintado, Luís
Carlos, Gersinho [Xexéu], Joaquim [Seu Quincas], Zejová, Mozart, Augusto Português,
Mario Veadinho, Mariozinho, Valmirzinho [camaleão gripado] Edilson [careca]
Elías [lão] Zé Walter, Carrinho vampiro, Guido, Jofrinho, Almir [galinha
branca] Gimba, Tri-bi, Mal talhado [craque] Moacir ganancia, Chico Mocó
[craque] Maneco, Zeca braço de vidro, Sapo, alfinete, Cachorrinho [craque],
Cacique cheiroso, Biluca, Reizinho [pilão] Reizinho [pipi] Zequinha carrasco,
Didi, Tôco, Compá, Edmilson caranguejo, “Buchecha”, bicudo, João Braga,
Braguinha, José e Walter Pimentel, Marcinho [Miss pira] Zezinho [velha
pastilha] Niquelado, Zuza, Totó [olho de boi] Waltinho [pipoca] Betinho
[jaboti] Raimundo [gorila assassino] “Arrupiado”, Nelson e irmão [os abestados],
Cícero caranguejo, Marco baratão, Café, Júlio Aderson, Marco Polo, João
Alfredo, Sebinho, Saloca [Salomão Rovedo Garcia], Aristides Aranha Filho [tarântula]
Zeca Aranha [cabeça de bala] Pato, Vinte e cinco, Antônio Carlos, Carrinho [tô
com a macaca] Isaque [bibiu] Manga rosa, Augusto, Pepé, Dinho, Gerson [boi da
croa] Come fogo, Esmeraldo [Chicletes], Zé Reinaldo, Nestor, Edson, Zé Ernesto,
[disco doido] Mariano [craque] Zequinha piloto, gata velha, Zé pelado, Marco
Polo, Turcão, Edson Garrido, Odilon [jacú enlatado] Zé Maria [cobra d’água], Zé
Benedito, Wiliam [aleijado], Luís Gago, Só uma banda, Ornilo [Patetão] Wagner,
Wiliam louro, Zé Maria, Getúlio, Zé grelha, Seu Ramos, Luís [burra cega]
Leonardo [braço de radiola] Lúcio, e o Sr. Fatiguê, não sei se esta é a forma
correta de escrever esse nome.
Deve haver mais nomes, mas só estes me recordo no momento.
Diversão:
São João: Quadrilhas, fogueiras, balões, besouros, bombas, mingau de
milho, rolete de cana, bola de gude, papagaio, aeromodelismo, viagens de
bicicleta à noite ao Aeroporto, para comprar cigarros importados, e ainda, as
outras inúmeras diversões criadas pala meninada,
As quadrilhas eram comandadas por um rapaz chamado de Aviador, mas davam
o maior trabalho para ensaiar, pois quando a música tocada chegava ao fim,
alguém, tinha que colocar novamente no início da música interrompendo o ensaio
várias vezes.
Férias de Julho em Ribamar, em especial as famosas republicas.
Numa das Férias de Julho um grupo do Filipinho alugou uma casa e
transformou numa república, eram muitas pessoas na casa que entravam e saiam,
portanto é impossível calcular o número exato, ali todos dormiam em redes, a
casa não tinha energia, o certo, é que uma noite na hora de dormir, alguém
mandou que apagasse a “lamparina”, no caso fazendo referência ao apelido da mãe
de um dos ocupantes da republica, o fato é, que houve uma confusão generalizada,
e foi necessário a intervenção, dos participantes de um boi que passavas na rua
da republica na ocasião, foras eles que conseguiram apaziguar os ânimos e todos
voltaram a dormir.
Para frequentar o Lítero. Quem não tinha carteira de sócio, pedia ajuda do
diretor seu “Murilo”, ou seja, pulava o muro, ou outra categoria importante de
sócio o sócio “Fundador”, eram aqueles que entravam pelos fundos do clube, piscina
aos sábados, e domingos, nas férias todos os dias, exceto nas segundas para limpeza
da piscina, mesa de “ping-pong”, quadra de futsal, festas de carnaval, houve
uma época que havia um lago com botes para os sócios.
.
As músicas mais tocadas no alto falante que ficava em frente à pisciana
eram:
Francisco José. Olhos castanhos, louco por ti Portugal, Lisboa Velha
Cidade.
Ari Lobo. Majorlândia, Eu não sou dois, Aracati, Caicó.
Anísio Silva. Onde estarás, folhas mortas.
Orlando Dias. Não recordo as músicas.
No carnaval, fora o Lítero, Jaguarema, e clube dos Sargentos, a turma se
divertia em outros locais menos familiares: Ubra no bairro de Fátima, Chifre de
ouro, no Anil, Beijo Gelado, Bigorrilho, e durante o ano todo aos sábados Carrinho
no João Paulo, e sua radiola maravilhosa, tocando Rumbas, Boleros e Merengues,
Calipso, etc. pois nessa época o ritmo das Antilhas, tinha grande aceitação em
São Luís.
O máximo em diversão foi quando apareceu uma Banda chamada Caribe Steel
Band, seus instrumentos eram feitos somente de tambores de aço, ao executar
suas músicas, levou o público do Jaguarema ao delírio.
E para encerrar, falamos da moda do Twist, dançado pelos jovens do
filipinho. Camom let twist agaim. Sendo Sergio Lima, um dançarino de grande
expressão.
Nas festas na Igreja do Anil, invariavelmente, muitas músicas eram
oferecidas, para as mães, ou irmãs da rapaziada do filipinho, em mensagens
geralmente assim: Alguém oferece a “dona fulana” o nome ou o apelido da mãe do
escolhido, esta música com muito amor e carinho.
Cito um exemplo, o acontecido numa noite de sábado: Alguém oferece a
dona ”Jussareira” esta música com muito amor e carinho, a carta de waldik
Soriano.
A escolhida, no caso era a mãe de um amigo nosso, uma senhora alta e
magra, o nome criado para ela, era apenas mera semelhança com uma palmeira, quem
estava ali nessa noite sabe a quem me refiro.
Num bar em frente à Igreja católica do Anil, era vendido camarão frito
na manteiga real, recheado de farofa, feito com farinha mimosa, uma delícia.
Além do mais havia as festas que o pessoal entrava de penetra, nos
bairros do João Paulo, Apeadouro, Monte Castelo, etc. normalmente quando um
grupo do Filipinho passava de carro, em certa rua e observava uma festinha,
parava próximo e perguntava a um vizinho o nome da aniversariante, e assim,
alguém do grupo, seguia para uma farmácia e comprava vários sabonetes,
embalados para presente, então voltava ao local festa, e com bastante
intimidade parabenizava efusivamente a pessoa, como se fosse um grande amigo,
após este ato, apresentava o resto da turma, que aproveitava para dançar, comer
e beber, de “grátis”.
Um caso diferente, que ficou para a história, aconteceu em um
aniversário no João Paulo quando após as formalidades de praxe, o dono da festa
achou aquele grupo estranho, pois todos eles estavam de carro e bem vestidos, destoando
do restante dos convidados, então o pessoal da casa usou a seguinte estratégia,
ofereceriam os doces, a comida, e a bebida, mas, passavam rapidamente com a
bandeja ao largo dos “ilustres convidados” dizendo: Olha a bebida, olha a
comida, olha o doce. Ninguém quer doce? Leva o doce. O resultado é o seguinte:
Vendo que ninguém iria lhe oferecer absolutamente nada, o grupo caiu fora
desapontado, lamentando o prejuízo, por ter dado um belo presente [os
sabonetes].
Moradores da Rua Três, esquina com a Rua Oito.
Aristides Aranha e Família
José Ramos e família
Sr. Eulálio e esposa, Zizi, Lalinho, e suas irmãs, talvez Virginia e
Regina.
Lalinho e proprietário de uma lanchonete na avenida.
Zizi e suas irmãs, não se têm notícias.
Na esquina com a rua nove, havia família Viana, um deles engenheiro
Agrônomo foi Secretário de Estado.
Em frente a essas residências, estava o sítio chamado de Sebastopol do Sr.
Arruda e seu filho Francisco, este nome Sebastopol permaneceu para mim
desconhecido durante muito tempo, pois trata-se de uma cidade ao sul da Rússia,
região da Crimeia, que só foi revelada a mim tempos mais tarde, após a leitura
de vários livros, entre outros cito: Arquipélago Gulag. O livro negro do
Comunismo. Karluk. História do povo Judeu. Etc.
Continuando na rua três, no lado esquerdo da rua, a primeira casa era
habitada pela família Mata Roma, entre eles, uma excelente professora, a querida
Luzenir, a ela, somos gratos por suas aulas, não só a mim, como muitos outros
alunos que ela ajudou ao educa-los, na casa ao lado morava o Sr. Palácio, avô
de Tadeu Palácio, ex-prefeito de São Luís, e Joãozinho seu filho, próxima casa
habitava o meu querido tio Afonso Aranha, tia Maria e seus filhos, Celso,
Augusto, Sergio "bocage" Marina, Mariza e Marta, a tia Maria, filha
do Vovô Abraão e Vovó Lusa. Celso só vinha ao filipino em época de férias, pois
ele morava no Rio de Janeiro, Marina casou com Olney, e Celso Casou com Jacira
irmã de Mário Júlio, criador desta página.
Aqui vale tecer alguns comentários, Nome de guerra, bocage, não sei a
sua origem, o fato se deve porque Sérgio
falava alguns impropérios, e sobre Sergio farei alguns comentário sobre situações
hilárias vividas por ele, e na última casa morava Zezinho e suas irmãs, ele ex-prefeito
de Icatu.
Em frente à residência da professora Luzenir, morava Fernando
"chuteira" e sua família, aos domingos pela manhã ao passar em frente
da sua casa ouvia-se Ray Conniff, as músicas encantadoras de um disco seu
chamado Love, quanto ao nome chuteira também não conheço a sua origem, mas pelo
fato do seu proprietário contar muitas estórias, o nome faz jus ao mesmo, ao
lado Gama e Adauto, Nonato Miranda, Pepé e Dinho deles não tenho qualquer informação,
em seguida sr. Nonato e família, Zuza, Natinho, e suas irmãs, sobre Zuza,
parceiro de futebol e aventuras falaremos mais tarde, por fim na última casa da
rua três morava José Serrano e Dona LeLé, ele proprietário do Magazine Serrano
no início da Rua Grande, dono de uma bela caminhonete Ford canadense, um sonho
de consumo de qualquer pessoa da época, quando esta família saia de férias a
casa ficava sobre a nossa responsabilidade, estávamos autorizado a jogar bola
do lado da casa e as vidraças por ventura fossem quebradas, não eram levadas em
consideração, pois elas faziam parte do pacote de férias.
Continuaremos mais tarde com os nomes dos moradores das outras ruas e “acontecimentos”
envolvendo o nosso pessoal.
Abraço Aranha.
E-Mail: pastoraranha@hotmail.com
Caro Aranha. Parabéns pelo Blog. Gostei muito. Continua. Saloca [Salomão Rovedo]. Meu nome completo é Salomão Jorge Boabaid Rovedo, mais conhecido como Salomão Rovedo, sem o "Garcia". Um abraço.
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